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Itambé. Segunda-feira, 16 de abril. Meio dia, horário em que muitos estudantes deixam as escolas em direção as suas residências. Mesmo horário que saí de casa para pegar uma van que faz linha pra Vitória da Conquista. No caminho, deparei-me com crianças, adolescentes, caminhando em grupos ou sozinhos.
No ponto das vans, naquele momento, três pessoas apenas seriam os meus companheiros de viagem. Os outros passageiros foram chegando aos poucos. Vinte minutos depois, o carro estava praticamente lotado. Bancos preenchidos por uma gente cheia de compromissos. E também por quem estar aprendendo a construir um futuro melhor.
Dentre eles estavam dois irmãos, moradores da Barra do Jeribá, zona rural de Itambé, estudantes do ensino fundamental 2 da Escola Municipal Dr. Aparício do Couto Moreira. Ela cursa a 5 ª série. Ele a 8ª. Os dois enfrentam todos os dias a estrada que os levam até o conhecimento. Uma batalha árdua que pode ser medida em números. Cada um deles paga oito reais pela passagem, quatro para ir à escola e quatro para voltar pra casa. Os pais desembolsam diariamente dezesseis reais. Semanalmente, oitenta reais. Mensalmente, trezentos e vinte reais, metade de um salário mínimo.
De acordo com o garoto, o carro que é disponibilizado pela prefeitura faz a locomoção dos estudantes da região onde eles residem até a Escola Emília Rezende, no povoado da Jussara. Mas eles em busca de uma maior qualidade do ensino, melhor estrutura pedagógica, decidiram estudar na Escola Municipal Dr. Aparício do Couto. A escolha da escola é um direito deles. O transporte gratuito, assim como um ensino público também gratuito e de qualidade é um direito deles.
Durante um bate-papo rápido com o garoto, ele afirmou ainda que a diretora do Aparício intercedeu por eles junto a secretaria de educação, mas não obteve sucesso. Então eles continuam pagando pelo transporte. E mais, caminhando outros três quilômetros, às vezes debaixo de chuva, às vezes debaixo de sol, da casa às margens da BA 263, das margens da BA 263 à casa.
- Para aí, por favor. Pede o garoto ao motorista da van. Para eles, a viagem acabou ali. O sofrimento é que continua. No carro, três professoras, comovidas e revoltadas com a situação, declaram: “Estes são os verdadeiros alunos que dão valor a educação”. Estes dois personagens reforçam a ideia de que a cidadania, tão propalada em Itambé, é burra